A necessidade de “armar uma peixeirada”

Apesar de muito tentar, ainda não consegui entender em pleno a necessidade que o povinho português tem de, sempre que pode, armar uma escandaleira. Se não entendia até há dois dias atrás, agora muito menos.
Aconteceu-me uma peripécia ontem à tarde, igual a tantas outras que milhares de portugueses já experimentaram, de certeza, pelo menos uma vez. Passo a contar.
Existe uma garagem que se encontra desocupada e para arrendar há já alguns meses por baixo da minha casa. Como falei com o proprietário no início deste mês (para comprar a dita) sabia que não estava ocupada. Por isso, quando não arranjava lugar para estacionar, estacionava à porta da garagem (como tanta gente aqui na rua).
No entanto, a garagem foi arrendada na sexta-feira e eu não sabendo estacionei, como sempre, o meu lindo carrinho às duas da manhã. No Sábado às 2 da tarde ouço um apitar insistente na rua e pensei “Mais um palhaço a impedir a entrada de uma garagem!”. Mal eu sabia que não era um palhaço, mas sim uma palhaça encantadora = moi même.
Quando uma vizinha muito atenciosa (à qual aproveito para agradecer mais uma vez, mas em público) me veio avisar que o meu lindo carrinho estava a estorvar uma senhora, corri apressada para reparar o meu erro. Chego lá em baixo e “desfaço-me”
Chegado o meu limite (que por norma não fica muito longínquo) tive de partir a loiça e berrar uma só vez “Você vai parar de berrar como uma histérica e ouvir-me?!” E lá continuei em tom suave e um pouco prepotente (devo confessar) “Já lhe pedi desculpa e admiti o meu erro (já sei o que estão a pensar… “impossível”) que mais é que você quer?!”.
É claro que a mulher continuou a gritar, desta vez sem a ajuda do pai, que lá teve um ataque de bom senso e viu que não chegariam a lugar nenhum. “A senhora não pode tirar daí o carro porque já chamei a polícia!” Ah ah ah! Big fuckin’ deal!!!! Pensei eu. Queria ter-lhe respondido: “Really?! Watch me…” mas não o fiz. Em vez disso respondi-lhe: “ A senhora não quer sair? Então tenho de tirar o carro, certo? Se não já tinha saído! Eu já volto e falo com a polícia, não se preocupe!” Fui estacionar o carro na minha garagm e a mulher lá ficou especada à minha espera durante dez minutos.
Não apareci… já sei! Agi mal… mas já me penitenciei o suficiente. Não me arrependo! Talvez só um pouquinho… A polícia nem chegou a aparecer… A mulher parou o carro em frente à garagem e não saiu… Não tenho porque ter a consciência pesada!!! Mas quem me conhece realmente sabe que estou a morder-me por dentro pelo facto de não ter voltado lá.
Sejam piedosos e animem-me. Não me condenem… Não vocês!!! E especialmente, NÃO GRITEM!